O luto da paixão

É verdade. Então eu ontem fiz o luto da paixão. E creio que também o "deselogio" do "Elogio do amor puro" do Miguel Esteves Cardoso :-)
Não sabiam que tal coisa sequer existia? Pois nem eu, até ontem.
Ontem, após rever um vídeo da Teal Swan (da sua série 'Ask Teal' - 'Is love enough?'
 https://youtu.be/1FpWcKpEGRg ), percebi que ainda sei muito pouco sobre a mecânica das relações 'românticas'...

Após quase oito anos de uma relação que não resultasse mais, e sendo que a mesma nasceu sem grande entusiasmo da minha parte, meti na minha cabeça que jamais voltaria a envolver-me com alguém sem me sentir verdadeiramente atraída pela pessoa. Como se costuma dizer, e em termos mais empíricos, sem a pessoa 'mexer' comigo.
A esta conclusão ajudou o facto de - precisamente ainda dentro desta relação - me ter apaixonado, perdidamente, pela pessoa de Luís Franco-Bastos, como é público :-)
Ali percebi, ali 'vi', tudo o que me havia faltado na relação em que estava: os interesses em comum, a compatibilidade, a cumplicidade que eu tinha a certeza (e ainda tenho) que existiria...

Mas ontem, neste Ask Teal o processo da atracção, da paixão, foi desconstruído e acima de tudo foi explicado na sua mecânica: a Teal explica que o que nos atrai fortemente noutra pessoa é a polaridade (não é o mesmo que oposto. Se eu sou uma pessoa altamente humanista não me vou apaixonar por uma pessoa racista, e por exemplo). No fundo, e em termos simplificados para a compreensão geral (minha incluída), o que eu tenho a menos o outro tem a mais. Algo em mim reprimido e que eu valorizo. E normalmente isto acontece ao nível do subconsciente (claro, para não variar).
No caso da minha paixão (pelo Luís), e conforme já referi, a mesma adveio de união da atracção física que sentia pelo rapaz, com a química que entretanto se desenvolveu com base em tudo aquilo que vim a saber em comum comigo e no que lhe admirava enquanto pessoa e personalidade. Mas sim, curiosamente não ao nível do subconsciente mas sim conscientemente, soube também que me apaixonara por tudo aquilo que ele representava em termos de meu alter-ego, se quiserem: a sua 'lata', a sua total 'ausência de filtro', o seu à-vontade, a sua auto-confiança, o seu extrovertimento; como já escrevi antes, tudo isto me pareceu altamente sensual no moço :-)
E é disto que a Teal fala quando se refere à polaridade que subconscientemente nos atrai no outro.
Mas a grande revelação, nesta matéria dos romances, chega agora. Preparados (I know I certainly wasn't ;-) ): ela afirma que este motor é na verdade muito pouco fiável se queremos vir a desenvolver uma relação duradoura e sólida, equilibrada. Pois. E porquê? Porque uma vez resolvida a questão subconsciente que nos fez atrair por aquela pessoa à partida, ou seja, uma vez por ela colmatada, o que é que sobra? Sobra tudo o que vier à consciência. E o mais certo (e isto são palavras da Teal) é que vejamos que na verdade temos muito pouco em comum com a pessoa com quem estamos. Isto claro, se decidimos iniciar uma relação impulsivamente com base na tal "atracção fatal" apenas...
Esta foi, assim, a minha grande epifania: até então - e porque quando me apaixonei tudo parecia 'bater certo' - eu achava que a paixão era a garantia para aquela pessoa ser certa para nós (pelo menos com base na minha experiência mais recente). E afinal, e conforme explica a Teal, significa apenas que aquela pessoa espelha e revela 'sombras' nossas subconscientes...

E foi precisamente isto que aconteceu na minha vida. Ainda que eu tenha saltado a parte da "atracção fatal", a pessoa com quem eu estava veio colmatar uma grande carência afectiva de base com que (a bem ou a mal, portanto), me fiz mulher. Na realidade é ipsis verbis o exemplo que é referido neste vídeo (portanto o meu 'caso' deve ser só mais um 'de manual' :-) ): a menina que cresceu com um pai emocionalmente indisponível :-) Consequentemente, essa carência afetiva é mais tarde tentada colmatar com a substituição de papéis masculinos (no meu caso): procuramos um amante que nos 'resolva' essa carência. E assim foi, precisamente.
Uma vez resolvida a dita - que é como quem diz: uma vez resgatada a nossa autoestima, o nosso amor-próprio, o nosso lugar no mundo, a nossa autoconfiança - sobra... Pois. Na melhor das hipóteses, sobram factores suficientes que continuem a motivar a relação. Que verdadeiramente unam as duas pessoas. Claro que uma relação também implica muita responsabilidade, intenção, empenho e dedicação. E constantes. E também por isto mesmo e na maioria dos casos (lamento informar :-) ), não sobra grande coisa. Percebemos que pouco ou nada temos em comum com aquela pessoa. Percebemos que as cumplicidades, que só agora valorizamos, não existem. E se ambas as partes não estiverem dispostas a trabalhar nesses factores, a relação terminará (e em grande mágoa, naturalmente).

No meu caso pessoal sobrou Amor. Sim, este Amor com 'A' maiúsculo que uma grande maioria de pessoínhas no nosso Planeta desconhece (porque nunca o sentiu). Sobrou um enorme carinho. Mas este Amor, é isso mesmo: é livre. Solta. Não prende e acima de tudo não exige. E aceita o outro, incondicionalmente.
E parecendo irónico ou uma contradição o que direi já de seguida, é aqui que temos de atentar a algo muito importante: a nossa felicidade pessoal.
Porque meus caros, não podemos esquecer que tratamos aqui de amor romântico.
Uma coisa é amarmos um irmão ou uma mãe que às vezes não suportamos, e ainda assim. Outra, dividirmos um tecto com outra pessoa, por escolha, e com a qual simplesmente não somos compatíveis. E foi aqui que eu tive de me ver 'de fora', de analisar a situação analiticamente, e ter em conta, e acima de tudo, o meu bem-estar pessoal... Afinal, antes de amar o Outro tenho de me amar a mim primeiro.
Porque é tudo muito complexo. Podemos cair no erro de querer dar 'uma de Madre Teresa de Calcutá' e pensarmos 'mas se eu amo tanto esta pessoa, mas depois entro constantemente em choque com ela, o problema só pode ser meu, que não sei aceitar o outro como ele é, que não sei amar verdadeiramente'. Isto, meus amigos, ainda que cheio de boas intenções, pode bem ser a via da auto-destruição.
Nós não nos damos todos bem uns com os outros. Uma coisa é amar-se incondicionalmente, é aceitar-se o outro como ele é, outra, um masoquismo passivo de se insistir em partilhar a vida ao lado dessa pessoa mesmo quando lá no fundo nos sabemos infelizes. Arrastar isso.
Estarmos infelizes é um sentimento que se nos serve grandemente. É um mecanismo para ganharmos mais consciência. Consciência de enfiarmos de uma vez por todas nas nossas cabeças que a meta é ser feliz. Crescemos numa Sociedade onde o estar-se feliz frequentemente e de forma constante é uma utopia, é tabú, e é desvalorizado, quando não ridicularizado. Como 'a vida é luta' e 'a vida é dor', crescemos a acreditar nisto mesmo.

Os Abraham-Hicks têm um vídeo em que explicam isto de forma muito pragmática: o que é que é melhor? Tentar, à força, ser feliz ao lado de alguém que se atraiu de um lugar de desalinhamento com a nossa essência, ou antes estarmos à partida alinhados, e desse lugar atrairmos até nós a pessoa que efectivamente nos vai fazer felizes de forma natural?...

A minha relação acabou por terminar muito motivada pelo facto de eu me ter apaixonado abertamente por outra pessoa. É simplesmente incompatível, e incomportável. Não estou a exagerar quando digo que essa paixão, que aconteceu ao cabo de cerca de 10 anos da minha vida, foi acima de tudo uma verdadeira Epifania. Foi como se literalmente eu tivesse andado adormecida para uma série de questões (para muitos óbvias) num relacionamento e um dia alguém me tivesse acordado e ainda me tivesse dado uns óculos 3D. Não foi sensação menor que isto, vos garanto. Cada ser-humano nesta terra tem o seu processo. Este foi o meu. Mas como o leitor também já compreendeu, isto foi só 'a gota de água final', porque a relação, pelos moldes em que se iniciou, trazia uma morte anunciada por defeito :-)
Consequentemente, convenci-me que isto (uma paixão desenfreada) seria a base certa para uma relação, e já que a minha não começara assim e tivesse "dado no que deu" :-)

A Teal termina este seu vídeo dizendo que todos nós, e nesta matéria, somos livres de fazer uma de duas escolhas: ou produzir uma Expansão de Consciência rápida e grande, ao 'embarcar' numa relação motivada por uma grande paixão e atracção mas que mais certamente vai ser perene e fulminante, que deixa marcas, ou, por outro lado, se decidimos para nós que queremos uma relação sólida, com bases, e um amor duradouro e tranquilo nas nossas vidas, então teremos de saltar aquela fase. Ou no mínimo não actuar sobre ela (literalmente. Deus sabe como eu tentei e se calhar o mesmo 'deus' sabia que tal não ia ser bom para mim e então facilitou-me tudo com um amor, ou paixão melhor dizendo, platónica :-) ).
E esta revelação caiu-me como baque. Mas eu compreendi o grande esquema das coisas. E findo o choque aceitei-o, no meu esclarecimento e consciência das Coisas, como faço sempre, porque Sei que é sempre pelo melhor. Sempre. E tomei a minha decisão :-)
                                   



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